29/06/2023

Simpósio de Saúde da Família aborda inclusão de vulneráveis

Evento on-line reúne conferencistas e profissionais da área da saúde de várias partes do país e é realizado pela Liga Acadêmica de Saúde da Família e da Comunidade com apoio do Papp

Conferência de abertura on-line também contou com os secretários de saúde de Prudente e Machado, Breno Casari e Neide Castilho (Foto: Reprodução)

Começou nessa quarta-feira (28) e segue até amanhã (30), o 1º Simpósio de Saúde da Família e da Comunidade, organizado pela Liga Acadêmica de Saúde da Família e da Comunidade (LSFC), com apoio do Programa de Aproximação Progressiva à Prática (Papp), ambos da Faculdade de Medicina (Famepp/Unoeste). O evento, que tem como principais objetivos dar visibilidade às populações vulneráveis na Atenção Primária à Saúde, promover troca de pesquisas em diferentes estados brasileiros e possibilitar pensamento crítico e reflexivo, conta com conferências, apresentações de trabalho e minicursos. É aberto a todos os interessados e realizado de forma on-line clique aqui.

Ontem à noite, durante a conferência de abertura, dois temas nortearam os debates: “Atenção à Saúde e aos Direitos Indígenas”, conduzido pela médica Eneline de Andrade Heráclio Gouveia Pessoa, e “Atenção à Saúde e aos Direitos dos Moradores das Zonas Rurais”, conduzido pelo outro instrutor convidado da noite Gabriel de Souza Mota. Eneline é médica de Família e Comunidade e preceptora do programa de residência na área da Secretaria de Saúde do Recife. Em 2013 trabalhou como médica integrante da Equipe Multiprofissional de Saúde Indígena da etnia Xukuru de Ororubá, em Pesqueira, no estado de Pernambuco. Já Gabriel é médico na Estratégia de Saúde da Família da zona rural de Álvares Machado, tutor do Internato da Faculdade de Medicina de Presidente Prudente no estágio de Saúde Coletiva e pós-graduando em Saúde Pública com Ênfase em Saúde da Família pela Universidade Método de São Paulo.

De acordo com a presidente da Liga de Saúde da Família, Letícia Ferruzzi Sacchetin, aluna do 7º termo de Medicina, o simpósio foi pensado e idealizado como forma de debater as dificuldades enfrentadas pelas populações mais vulneráveis dentro da esfera da saúde, como preconceitos, estigmas e diversas outras barreiras de acesso.  “É por isso que os cursos da saúde precisam voltar o olhar para temas como saúde das mulheres, da população LGBTQIAPN+, negra e indígena, saúde dos moradores das zonas rurais, da população privada de liberdade e da população diagnosticada com transtornos mentais”.

O conceito de população vulnerável está relacionado à pobreza e à má distribuição de renda, afetando a saúde e a vida de alguns grupos populacionais. Em linhas gerais, é disso que se trata, mas, claramente, a situação envolve uma complexidade de fatores que perpassam pela falta de saneamento básico, de políticas públicas, pelo descaso e abandono do poder público. Letícia explicou que os temas em discussão nos três dias de simpósio foram escolhidos por contemplarem e serem de interesse de todo esse público, já que a proposta central do evento é possibilitar um pensamento crítico e reflexivo sobre a desigualdade na saúde, e sobre o que fazer e o que não fazer sendo (um futuro) profissional da saúde.

“Esperamos que isso possibilite uma formação mais humanizada, em que o conceito de saúde não se limite a ausência de doenças, mas se amplie para uma qualidade de vida digna. Ser saudável implica ter seus direitos garantidos, casa, comida, escola, trabalho em condições adequadas e lazer. Ser médico, enfermeiro, fisioterapeuta, psicólogo, educador físico ou qualquer profissão da saúde, implica reconhecer a necessidade de auxiliar de forma integral a população, caso contrário estaremos lidando apenas com a doença, e não com a saúde”, completou.

Papp em ação

A professora do Papp, Mariana Carolina Vastag Ribeiro de Oliveira, diz que a intenção dos debates que movimentam o simpósio é contextualizar o modelo biopsicossocioambiental, considerando as práticas culturais de cura em saúde, a educação das relações étnico-raciais, e o ensino de história e cultura afro-brasileira e indígena, conforme legislações vigentes. “Por isso consideramos no simpósio as vulnerabilidades porque hoje é algo que cada vez mais tem sido apontado como uma necessidade, principalmente pelo fato de Presidente Prudente também ter recebido algumas pessoas refugiadas, tanto que há projetos em relação a isso. E hoje também é uma normativa cada vez mais incentivada na inclusão dessa população que tem dificuldade, infelizmente, para ter acesso à saúde”, frisou.

A médica do Nordeste, Dra. Eneline de Andrade Heráclio Gouveia Pessoa, debateu Atenção à Saúde e aos Direitos Indígenas (Foto: Reprodução)

Já o coordenador do Programa de Aproximação Progressiva à Prática, o professor Alex Wander Nenartavis, destacou, por sua vez, que o simpósio está mobilizando todos os docentes do programa que estão utilizando o tempo de mediação com falas que, em linhas gerais, canalizam suas concepções relacionadas à "vulnerabilidade" e à "equidade" em saúde. “Fomos atravessados por uma pandemia, que expôs ainda mais as desigualdades sociais em nosso país. O novo coronavírus [Sars-CoV-2] e a Covid-19 não criaram essa realidade. O vírus e a doença provocada por ele tornaram o enfrentamento dessa realidade constante ainda mais penoso e elevaram o nível de vulnerabilidade dessas populações. É nosso objetivo, enquanto ‘formadores de opinião’ contribuir para a ampliação da consciência e do exercício da cidadania das populações vulneráveis, de modo a promover uma atenção à saúde integral e equânime, além de conferir a esses segmentos populacionais parte da responsabilidade na gestão das políticas de saúde, fortalecendo o controle social”, destacou.

Programação que segue

Nesta quinta-feira, a programação do 1º Simpósio de Saúde da Família e da Comunidade tem sequência, de forma online, com minicurso sendo realizado pela manhã. O tema “Atenção à Saúde e aos Direitos da População Negra na Atenção Primária à Saúde” é proferido pela psicóloga e professora dos cursos de Psicologia e Pedagogia da Unoeste, Barbara Cristina Soares Sena. Bárbara também é doutoranda em Psicologia pelo Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

À noite, a segunda conferência trará mais três especialistas convidados para o debate. São eles: Gustavo Marques Quesada, com o tema “Atenção à Saúde e aos Direitos da População LGBT: abordagem da sexualidade e identidade de gênero na Atenção Primária à Saúde”, a partir das 19h; Alba Lucena Fernandes Gandia, com o tema “Atenção à Saúde e aos Direitos das Mulheres: políticas públicas em saúde”, a partir das 19h40; e Daiene Tomie Paes Kassama, com o tema “Atenção à Saúde e aos Direitos das Mulheres: vulnerabilidades e violências”, a partir das 20h20.

Na sexta-feira (30), último dia do simpósio, a programação do minicurso tem sequência no período da manhã, das 9h às 11h, com a segunda parte do tema “Atenção à Saúde e aos Direitos da População Negra na Atenção Primária à Saúde”. Mas desta vez será conduzido pelo médico e mestrando pela Unoeste, Dr. Lucas Freitas Bergamaschi Pereira da Silva. À tarde, seguem apresentações de trabalhos. E à noite, a conferência de encerramento, traz mais dois psicólogos especialistas para as discussões. A primeira convidada é Cláudia Regina de Oliveira Vaz Torres, que abordará o tema “Atenção à Saúde e aos Direitos da População Privada de Liberdade”, a partir das 19h. Já o segundo e último palestrante que fecha o simpósio é o psicólogo Marcelo Magalhães Andrade. Ele vai discorrer sobre “Atenção à Saúde e aos Direitos da População Diagnosticada com Transtornos Mentais”, a partir das 20h.

Lembrando que o simpósio é aberto e ocorre de forma on-line neste link.


Legenda: Conferência de abertura on-line também contou com os secretários de saúde de Prudente e Machado, Breno Casari e Neide Castilho
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Legenda: A médica do Nordeste, Dra. Eneline de Andrade Heráclio Gouveia Pessoa, debateu Atenção à Saúde e aos Direitos Indígenas
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Legenda: O médico que atua em Álvares Machado, Dr. Gabriel de Souza Mota, abordou Atenção à Saúde e aos Direitos dos Moradores das Zonas Rurais
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