17/07/2020

Pesquisadoras buscam patente de placa de uso em construção

Produto ecológico resultante de pesquisa que utiliza resíduos da construção civil e vinhaça tem forte apelo social

Foto: João Paulo Barbosa

Placa pré-moldada durante teste de resistência em laboratório da Unoeste

 

Resíduos da construção civil e de atividade sucroalcooleira são utilizados na produção de placa pré-moldada para uso como parede em edificações. O produto oferece duas vantagens: contribuição na redução do impacto ambiental e a fabricação de material de baixo custo. Agora, as autoras da pesquisa desenvolvida na Unoeste que resultou na placa ecológica estão empenhadas na obtenção de registro de patente junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi), autarquia vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações.

As autoras do estudo e seu respectivo produto são Jacqueline Roberta Tamashiro, Patrícia Alexandra Antunes e Rebeca Delatore Simões. A pesquisa foi realizada junto ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional, que oferta mestrado e doutorado. A idéia surgiu no projeto interdisciplinar sobre resíduos e seus potenciais impactos no Pontal do Paranapanema; região de economia sustentada na agropecuária, incluindo o setor sucroalcooleiro que, entre os resíduos da produção de etanol, gera a vinhaça utilizada como agente hidratante da placa pré-moldada.

 Substituição 100%

Um dos componentes para fabricação do novo produto é o concreto reciclável que extraído de resíduos da construção civil, substitui recursos naturais não renováveis e sua utilização em novo produto representa baixo custo. Idêntico resultado econômico e de redução do impacto ambiental ao eliminar o uso de água, é obtido com a vinhaça, resíduo pastoso utilizado como líquido que proporciona melhores condições de trabalho em estado fresco, além de aumentar a resistência mecânica da placa, cujo desenvolvimento levou um ano. A composição final substitui a areia e a água em 100%.

De acordo com Patrícia, na produção da placa tradicional, os componentes utilizados são cimento Portland, areia natural, brita basáltica e água; enquanto que na placa ecológica é feito uso de cimento Portland, resíduos de concreto, brita basáltica e vinhaça. Os processos de cura foram alternados em múltiplos de sete, indo de sete a 28 dias. A caracterização dos corpos de prova foi por resistência à compreensão mecânica; índice de vazios; microscopia ótica; microspia eletrônica de varredura; absorção no infravermelho com transformada de Fourier-ATR. Os resultados foram os melhores possíveis.  

Ficou demonstrada a viabilidade da placa ecológica como material construtivo na análise de todos os parâmetros técnicos, com desenlaces superiores aos exigidos pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), além de minimizar os impactos ambientais através de reutilização de resíduos dentro do ciclo construtivo. O trabalho foi desenvolvido nos laboratórios de engenharia e de química da Unoeste, com alguns testes em instituições parceiras.

 Ciência e tecnologia

O empenho em buscar obter a patente junto ao Inpi é uma forma de proteger da exploração por terceiros um produto gerado de em trabalho cientifico, o que representa valorização de currículo e possível captação de recursos, no caso da comercialização do produto gerado; conforme Patrícia. “Para a universidade, pode ser uma fonte de captação de recursos pela concessão da licença e exploração do invento por terceiros, pode servir de marketing institucional e valorização no quesito de desenvolvimento científico e tecnológico”, comenta.

Outro aspecto importante é o de contribuir para que a Unoeste esteja no rol das universidades que transformam conhecimento científico em produto e que contribuem com benefícios para a sociedade. O processo para obtenção de patente é moroso e pode levar de quatro a seis anos, passando por várias etapas. Existem mais processos de produtos desenvolvidos na Unoeste em diferentes etapas de trâmite no Inpi, incluindo o de produção de tijolos ecológicos.

Benefícios sociais

No estudo que deu embasamento à pesquisa e a elaboração do produto, a autoria foi da arquiteta Jacqueline Roberta Tamashiro, com a orientação da doutora em ciência e tecnologia Rebeca Delatore Simões e co-orientação da doutora em química Patrícia Alexandra Antunes. Foi durante o mestrado no Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional, no qual Jacqueline está fazendo agora o doutorado. No levantamento de dados, foi apurado que a construção civil no Brasil responde por 60% da geração de resíduos sólidos, dos quais 29% são de concreto.

Na produção de cada litro de etanol são gerados entre 13 e 18 litros de vinhaça, resíduo que sem os devidos cuidados ambientais pode gerar sérios danos para bacias hidrográficas e lençóis freáticos. A utilização de resíduos da construção e vinhaça na fabricação da placa pré-moldada contempla a reciclagem, substitui a extração de recursos naturais e resulta em baixo custo para a construção civil, podendo gerar benefícios sociais, por exemplo, em programas de construções de habitações populares.

Seleção para o Mestrado

O Programa está com inscrições abertas para o processo seletivo de alunos regulares do curso de Mestrado, com a oferta de 10 vagas. Os interessados têm prazo até o dia 31 deste mês de julho. A seleção compreende avaliação de pré-projeto de pesquisa, apresentação oral do pré-projeto, prova de suficiência em língua inglesa e avaliação de títulos. O resultado será divulgado a partir de 12 de agosto, quando serão abertas as matrículas que poderão ser feitas pelos aprovados até do dia 19 do mesmo mês. Com o caráter interdisciplinar, o Programa é aberto para profissionais com diferentes formações de nível superior. Mais informações no site da Unoeste, na página da Pós-Graduação.


Legenda: Placa pré-moldada durante teste de resistência em laboratório da Unoeste
Créditos: João Paulo Barbosa