17/12/2019

Parceria na educação infantil precariza o trabalho docente

Gestão compartilhada flexibiliza relação trabalhista e gera outros problemas, segundo professores e educadores

Foto: João Paulo Barbosa

Parceria público-privada intensifica precarização do trabalho docente na educação infantil

 

Pesquisa na linha de políticas públicas em educação confirmou a hipótese de que as parcerias público-privadas intensificam o processo de precarização do trabalho docente, por meio da flexibilização nas relações do trabalho. O autor do estudo, João Gomes Moreira, com experiência em filosofia e ênfase em filosofia da educação, acaba de tornar público o resultado obtido mediante entrevistas com 11 professores e educadores de escolas de educação infantil em uma cidade do interior paulista.

O estudo foi desenvolvido no Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Educação da Unoeste, com orientação do Dr. Ricardo Eleutério dos Anjos e avaliação do Dr. Marcos Vinicius Francisco e Dr. Regilson Maciel Borges, convidado junto à Universidade Federal de Lavras, em Minas Gerais, com participação por videoconferência. Durante a banca examinadora, na sexta-feira (13), foi exposto o caráter inédito do trabalho voltado para contribuir com a educação.

É o primeiro estudo sobre as parcerias público-privadas na educação infantil, mediante gestão compartilhada e que vem ocorrendo em várias cidades brasileiras, inclusive em Presidente Prudente. A pesquisa foi desenvolvida entre 2015 e 2018 com o propósito de saber quais as implicações dessas parcerias no trabalho docente a partir da visão de professores e educadores. Possivelmente, a primeira grande implicação é a escola vista como um negócio e não como espaço de conhecimento.

Geralmente trabalhadoras de baixa renda que não têm no vínculo familiar com quem deixar os filhos, quando deixam em escola que segue o modelo de negócio do mundo capitalista, podem ocorrer situações como as levantadas no estudo, da criança passar praticamente o dia todo numa sala por falta de espaço para recreação e do professor ou educador não ter como sair da sala para tomar um café e até mesmo almoçar, já que não há intervalos.

“A gestão compartilhada é o mesmo perfil da gestão empresarial que vê o outro como cliente, com sua atuação voltada ao interesse do capital”, diz Moreira em relação ao que pesquisou e, neste caso, cita que a gestão escolar, que deveria ser democrática com a participação de todos os atores envolvidos, acaba sendo linear. O que conta mesmo são os custos e suas reduções com baixos salários, pouco material didático e condições ruins de trabalho, que geram grande rotatividade no quadro funcional.

Nas respostas dos entrevistados prevaleceram informações como número insuficiente de professores e educadores, falta de intervalo para café ou almoço, infraestrutura precária, falta de recursos pedagógicos, salários baixos, solicitação do não registro do ponto eletrônico para ficar além do horário e esgotamento do trabalhador, geralmente do sexo feminino, e que tem sua casa, incluindo seus próprios filhos para cuidar, em dupla jornada diária.

Dentre casos relatados pelos entrevistados e que chamaram muito a atenção, esteve o de uma professora que ganhava R$ 1,2 mil, pagava aluguel e tinha em casa a sua mãe e dois filhos para cuidar. A dissertação de estudo de Moreira, que resultou em sua aprovação pela banca examinadora da defesa pública e na obtenção do título de mestre em Educação, mostra a precarização do trabalho docente nas escolas compartilhadas, pelo menos nas que foram objetos de sua pesquisa.


Legenda: Parceria público-privada intensifica precarização do trabalho docente na educação infantil
Créditos: João Paulo Barbosa