Nas áreas acadêmicas a pesquisa educacional é diferenciada
Toda produção, sem nenhuma exceção, tem o mesmo ponto de partida que é a concepção de educação pessoal de quem produz
Dr. Cézar de Alencar Arnaut de Toledo: Metodologia da Pesquisa Educacional (Foto: Homéro Ferreira)
O que diz respeito à produção acadêmica e especialmente na pós-graduação, a pesquisa educacional é diferenciada em relação das outras áreas do conhecimento. A diferença reside em ter concepção pessoal sobre educação como ponto de partida.
“Quem faz pesquisa educacional, antes de tudo, tem a tarefa de esclarecer a si mesmo o que é educação. Este é o primeiro passo e não existe concepção correta ou equivocada”, afirma o Dr. Cézar de Alencar Arnaut de Toledo.
Afirmação feita em sua primeira fala na abertura do Colóquio de Pesquisa realizado durante a manhã desta quarta-feira (9) junto ao Programa de Pós-graduação em Educação (PPGE), pelo qual a Unoeste oferta mestrado, doutorado e pós-doutorado.
O evento científico, em caráter híbrido – presencial e on-line, reuniu professores e alunos dos campi da Presidente Prudente e de Jaú que tem turma de mestrado. Presencialmente, no campus 2 em Prudente, o palestrante promoveu ampla reflexão.
Perguntas e respostas
Ao discorrer sobre o tema Metodologia da Pesquisa Educacional, na complementação de seu raciocínio inicial, disse que é o pesquisador quem busca a concepção de educação e pode fazer isso dentro das mais diferentes perspectivas.
Também disse que são várias as possibilidades de abordagem e o pesquisador deve ter o entendimento de que a educação não é somente em sala de aula, mas em todo lugar; e que objeto de análise é igualmente recurso pedagógico de formação do pesquisador.
“A pesquisa não pode ser pensada como algo acabado e nem precisa encontrar resultado inquestionável. Pode dar grande contribuição à educação fazendo perguntas e não, necessariamente, dando respostas”, pontuou.
Para o Dr. Cézar, o melhor caminho para conduzir a pesquisa é conhecer o histórico; e isso é ponto chave na educação. Sobre o método, explicou não ser algo que se escolhe como se fosse mercadoria; mas como resultado de leitura.
Palavras determinantes
Em síntese, comentou que o método é o conjunto de concepções que dão respaldo à pesquisa, utilizado para obtenção de resultados. É também o resultado das leituras sobre o conteúdo pesquisado, inserido nos conceitos básicos de quem pesquisa.
Então, o passo inicial é o esclarecimento sobre a tendência, a partir de autores, para conhecer a área e conduzir os estudos com desenvoltura. Na sequência, a escolha do assunto a ser pesquisado, deve ser o que conhece melhor.
Na continuidade dessa linha de raciocínio, deixou claro que as palavras chave são determinantes para o quadro da pesquisa e por isso, devem ser pensadas como estante, para saber em qual o trabalho será exposto.
Outro aspecto importante é o de que as palavras chave devem ser pensadas do macro para o micro, na seguinte ordem: área, especialidade, linha de pesquisa e objeto. Sobre a redação, comentou que no começo pode ser meio confusa.
Valor extraordinário
Porém, do meio para o final deve demonstrar evolução; considerando que ao fazer a pesquisa o sujeito se educa pela leitura, organização e disciplina. “Isso tem valor extraordinário para a avaliação”, pontuou.
Ainda sobre redação, aconselhou não começar capítulo com citação sobre o que diz determinado autor; mas dizer do seu entendimento para analisar uma afirmação e, ai sim, citar autor, para esclarecer como construiu o pensamento.
O palestrante manifestou o entendimento de que a parte mais importante do trabalho é a introdução por oferecer informações sobre dados obtidos, como foi todo o processo, a descrição da metodologia e o resultado obtido.
Tanto a introdução quanto a conclusão, conforme expos o palestrante, é uma espécie de testemunho único, que só pode ser dado pelo autor da pesquisa. São núcleos de sustentação da originalidade e tal como a identidade: não existe outra igual.
Domínio e defesa
Sobre a dissertação (mestrado), comparada como monografia de base, esclareceu que o autor tem que provar que domina o assunto. Porém, a tese (doutorado) exige mais: a defesa sobre o objeto escolhido, fazendo distinção de outros estudos.
Como a pesquisa educacional tem a ver com o ato de educar, o Dr. Cezar colocou em relevo algumas discussões pertinentes e importantes. Uma delas é a de que a escolas ofertam o mesmo conteúdo, sendo públicas ou privadas. O que diferencia é público.
“A diferença está na convivência social e se constrói o externo social a partir dessa realidade”, explicou, acrescentando que o discurso de ascensão social, criado no século 18, não faz mais sentido nos dias de hoje.
Porém, permanece a idealização de escola perfeita, como se em algum tempo todos os alunos fossem obedientes; como se adolescente nunca fosse questionador e que não se rebela contra as normas. Condições para formação da sua personalidade.
Risco da idealização
Em tom humorado, conforme ocorreu em vários momentos da palestra, aconselhou levar para tratamento o adolescente que nunca questionou uma regra e afirmou que a idealização de algo que nunca existiu coloca a educação fora da realidade.
“Aluno ideal não existe; só tem na construção mental”, afirmou para criticar a manutenção do discurso repetitivo e distante da realidade social, cultural e econômica. Ficou a mensagem de que produzir pesquisa educacional requer esse entendimento.
No Colóquio de Pesquisa a coordenadora do PPGE, Dra. Camélia Santina Murgo, que estava no campus de Jaú, enalteceu os professores envolvidos na organização, citando o Dr. Sidnei de Oliveira Sousa, professor da disciplina Seminários de Pesquisa II.
Nos agradecimentos ao Dr. Cézar, pesquisador vinculado à Universidade Estadual de Maringá (UEM), a coordenadora enfatizou a consistência de sua fala e as reflexões de grande importância para todos os envolvidos no evento.
Encontro de Egressos
Na abertura, a vice-coordenadora Dra. Danielle Aparecida do Nascimento dos Santos colocou em evidência que a excelente formação proporcionada pelo colóquio sobre o desenho da pesquisa tem refletido nos resultados das dissertações e teses.
O doutorando Luís Henrique Ramos, egresso do curso de Direito na Unoeste, conduziu o cerimonial e foi mediador do Encontro de Egressos que reuniu a Dra. Andressa Pereira de Souza, Dr. Bruno Teremussi Neto e Dra. Josélia Galiciano Pedro.
Professores e alunos do mestrado e doutorado em Prudente, que participaram presencialmente (Foto: Homéro Ferreira)