01/11/2022

Estudo sobre leishmaniose desperta interesse internacional

Apresentação em conferência sediada em Portugal gera intenso debate envolvendo os pesquisadores participantes

Dr. Euribel durante a apresentação do estudo na conferência europeia, em Portugal (foto: Cedida)

 

Por conta de que a doença tem se espalhado lenta e constantemente no plano global, cientistas do mundo todo voltaram as suas atenções ao 3º Congresso Internacional de Caparica sobre a Leishmaniose 2022, de 24 a 26 de outubro. Estudo científico apresentado pelo brasileiro Dr. Euribel Prestes Carneiro, pesquisador vinculado à Unoeste, despertou interesse internacional, gerando intenso debate.

“As sombras de um fantasma II - O novo cenário da Leishmaniose Visceral no estado de São Paulo e a região do Oeste Paulista surgindo como área prioritária para vigilância” é o título do estudo científico multicêntrico, como é classificado o que ocorre simultaneamente por meio de um mesmo protocolo em diversas instituições, mostrou como a leishmaniose visceral avança do interior no sentido região metropolitana de São Paulo.

Conforme o pesquisador, atualmente, na América Latina mais de 96% dos indivíduos infectados pela leishmaniose visceral (LV) vivem no Brasil, país que juntamente com a Índia possuem os maiores índices do mundo. Uma doença grave, que se não for diagnosticada e tratada precocemente pode levar o indivíduo a morte.  Em São Paulo, o estado brasileiro mais rico e populoso, o primeiro caso em cães ocorreu em 1998 e em humano em 1999.

Casos ocorridos em Araçatuba, no interior paulista e a mais de 500 km a oeste de São Paulo capital. Desde então, a doença vem se espalhando de forma alarmante, especialmente na região oeste do estado de São Paulo; de acordo com o estudo apresentado no evento científico europeu. Na aplicação da pesquisa foi utilizada a metodologia de sensoriamento remoto e mapeamento temático pelo Sistema de Informações Geográficas (SIG).

Durante mais de 20 anos

O estudo analisou a dispersão da doença desde 1999 até 2020 e fez uma predição de como ela irá avançar no estado nos próximos anos. O foco esteve centrado na visão de Saúde Única (One Health) que une o cuidado humano, animal e do meio ambiente, de forma conjunta, como estratégia bem-sucedida de esforços em saúde pública e garantia de bem-estar das populações. Foram apreciados diferentes parâmetros para entender a dispersão da doença.

“O trabalho analisou o número de pessoas infectadas com LV [leishmaniose visceral) e os municípios de residência; o avanço em um número cada vez maior de municípios do vetor (mosquito palha); os cães domésticos, que são o principal reservatório do parasita (Leishmania infantum); e ainda fatores ambientais como temperatura e cobertura vegetal de todo o estado de São Paulo”, de acordo com informações do Dr. Euribel.

Entre 1999 e 2020, de 645 municípios paulistas, 105 (16,3%) acumularam casos humanos da doença; estando localizados no oeste paulista os com maior prevalência. O mosquito palha (Lutzomyia longipalpis) foi encontrado em 205 (31.6%) dos 645 municípios e está se espalhando rapidamente para diferentes regiões do estado.  A leishmaniose canina avança na direção da região metropolitana da cidade de São Paulo e foi encontrada em 192 (29,7%) dos 645 municípios.

Explica o Dr. Euribel que um dado importante do estudo é a associação da expansão da leishmaniose visceral em humanos, vetores e cães com o desmatamento e a temperatura. “Em regiões com áreas florestais preservadas e climas mais frios como o litoral do estado a doença avança lentamente enquanto há grande rapidez na dispersão em áreas quentes e desmatadas, como o oeste paulista e noroeste”, pontua.

Expressivo envolvimento

O estudo contou com a colaboração e pesquisadores de diferentes instituições e fez parte da produção da dissertação do médico infectologista e professor na Unoeste, Rodrigo Sala, no Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional, que oferta mestrado e doutorado.

Estiveram envolvidos o Dr. Elivelton da Silva Fonseca, da Universidade Federal de Uberlândia; do estudante do curso de Medicina Felipe Leonardo Semensati e do médico veterinário Dr. Rogério Giufrida, ambos da Unoeste; do Dr. Edilson Flores, do campus da Unesp em Presidente Prudente; do Dr. Osias Rangel, da Superintendência de Controle de Endemias (Sucen) em Campinas; e do biólogo Roberto Mitsuyoshi Hiramoto, do Instituto Adolfo Lutz, de São Paulo.

O estudo teve a coordenação e orientação do Dr. Euribel, professor do curso de Medicina da Unoeste e nos programas de mestrado em Ciências da Saúde de pós-graduação Stricto Sensu em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional. “O assunto gerou grande interesse, com intenso debate após a apresentação. O encontro internacional também foi importante para rever pesquisadores e estabelecer novas colaborações tanto a nível nacional como internacional”, conta o Dr. Euribel.  


Legenda: Dr. Euribel durante a apresentação do estudo na conferência europeia, em Portugal
Créditos: Cedida