20/10/2021

Ciência tem papel fundamental no enfrentamento da Covid-19

Na abertura do Enapi 2021, renomado epidemiologista condena a anticiência veiculada em grupos de WhatsApp

Dr. Pedro Hallal: a ciência no enfretamento da Covid-19, sem o viés da politização (Foto: Reprodução)

 

Sobre o papel da ciência no enfrentamento da Covid-19, o Dr. Pedro Rodrigues Curi Hallal afirma que a ciência fez e continua fazendo o que é possível. Disse que o resultado do impacto da pandemia no Brasil, em referência aos mais de 20 milhões de infectados e mais de 600 mil óbitos, não é por culpa da ciência, mas da anticiência veiculada em grupos do WhatsApp.

Assuntos tratados pelo epidemiologista ao fazer na noite de terça-feira (19) a conferência de abertura do 26º Encontro Anual de Pesquisa Institucional e Iniciação Científica (Enapi), um dos eventos que compõe o 26º Encontro Nacional de Ensino, Pesquisa e Extensão (Enepe) realizado pela Unoeste com o tema “A valorização da ciência, saúde e sociedade na pandemia”.

Para tratar do referido papel, o conferencista utilizou de dois princípios básicos da pesquisa. Primeiro: a produção científica começa com perguntas e não com respostas. Segundo: a lógica é o critério da lógica e consistência.  A pesquisa de vacinas foi precedida da pergunta sobre a sua eficácia; e algumas respostas poderia ter sido que a vacina não serve para nada.

O que é inaceitável

Nesse mesmo viés, no começo do ano passado houve o pensamento clínico de que a cloroquina serviria como prevenção, por ser utilizada no tratamento da malária que é doença infecciosa. O medicamento foi testado e não deu resultado. Para Hallal, o pensamento foi válido, mas é inaceitável que ainda haja a insistência de que funciona.

Ao fazer analogia de uso da máscara pelo critério da lógica e consistência sobre a relação do tabagismo com o câncer de pulmão, disse que se de 10 mil estudos cinco mostrarem não existir essa relação, o que prevalece são 9.995. Se for levado em consideração apenas os cinco, “isso não é ciência; é charlatanismo”.

Outro aspecto evidenciado na conferência foi sobre a letalidade da Covid-19, de no máximo 1%. Portanto, a maioria é de casos leves e o grande problema é o assintomático como o principal disseminador da vírus. A testagem em massa e barreiras sanitárias seriam os meios para reduzir a disseminação.

Exercício científico

Conforme Hallal, quando o vírus chegou ao país foram tomadas medidas corretas e erradas, sendo que a mortalidade ficou acima de 2.800 por 1 milhão de habitantes brasileiros, bem acima da média mundial de 700 mortes e que se tirar o Brasil cai para 550. “Esse é um exercício científico que precisa ser feito”, pontuou.

Para o epidemiologista não teria como evitar que o coronavírus chegasse ao Brasil e nem as mortes, “mas não precisava chegar a ser mais 600 mil e a culpa não é do vírus”. No seu entendimento, o primeiro grande erro foi não ter sido feito o básico em relação ao enfretamento à doença: testagem, rastreamento e isolamento.

Outros erros foram não disseminar o uso da máscara; confiar no tratamento precoce e se expor ao vírus diante da falsa sensação de segurança; lockdowns curtos e flexíveis quando deveriam ser longos e rigorosos; e pouca quantidade de vacinas no começo, com muitas pessoas perdendo a vida antes da chance de vacinar.

O pior já passou

Questionado se a Covid-19 veio para ficar, a resposta foi sim; porém, em níveis aceitáveis, bem toleráveis. As máscaras somente serão usadas em situações excepcionais, mesmo em casos de gripes. Sobre a vacina, disse ser bastante provável que entre no calendário vacinal, mas não sabe se deverá ser anual.

Em relação ao que esperar daqui para a frente, comentou que prognóstico epidemiológico é bom; que pode existir oscilações para cima, mas ainda assim o número de infectados deve cair. “O Brasil está chegando lá para retomar a vida normal. Com base na realidade dos fatos o cenário é positivo”, expôs.

Ao dizer que a vacina deve ser exigida para manter a evolução do cenário, esclareceu não ser alarmista e que tem uma posição responsável, com o entendimento de que pandemia não ocorre a toda hora e que não é preciso entrar em desespero. “A pandemia não acabou, mas o pior passou. O ano de 2022 será melhor que 2021”, estimou.

Escolas devem abrir

Acompanharam a conferência do Enapi o pró-reitor de Pesquisa, Pós-graduação e Extensão, Dr. Adilson Eduardo Guelfi; e o pró-reitor Acadêmico, Dr. José Eduardo Creste, que fez a pergunta sobre o que esperar, epidemiologicamente, daqui para a frente. Sobre a retomada das aulas presenciais, o conferencista concorda.

“Quem está remoto, deve continuar e planejar o presencial para o próximo semestre. As escolas deveriam ser uma das últimas coisas a fechar. O Brasil teve tantos bares abertos e escolas fechadas; o que não tem nenhum sentido epidemiológico”, comentou o Dr. Pedro Hallal pesquisador vinculado à Universidade Federal de Pelotas (UFPel).

Na universidade gaúcha foi reitor e atualmente também leciona na Universidade da Califórnia, de tal forma que fez a conferência do evento 100% on-line direto da cidade de San Diego, nos Estados Unidos. É o coordenador da pesquisa Epicovid, o maior estudo epidemiológico do Brasil.

Mesa-redonda Ensino, Pesquisa e Extensão

O início desta quarta-feira (20) foi marcado por um debate que envolve a tríade da universidade. Em um primeiro momento, a professora doutora Maria Alice Carraturi Pereira, da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo, falou sobre o que é ser um bom professor no ensino superior do século 21 que tem o perfil do aluno 3.0. Já a Dra. Araceli Aparecida Hastreiter, professora da USP, destacou que a divulgação científica é fundamental para o desenvolvimento da ciência. “Essa popularização é a recodificação da ciência para uma linguagem mais simples sendo direcionada para o público leigo. Para nós, é um grande desafio expandir a pesquisa para além do mundo acadêmico”, afirma Araceli.

E para marcar o encerramento das reflexões, a Dra. Maria Antônia Ramos de Azevedo, docente da Unesp de Rio Claro (SP), destacou que a indissociabilidade significa que o ensino, a pesquisa e a extensão precisam ser vivenciadas de forma interconectada, articulada e orgânica. Dentre as suas considerações, observou que a indissociabilidade necessita de uma prática interdisciplinar profissional dos professores no ensino, na pesquisa e na extensão.

Prêmio Científico

Ainda nesta quarta (20) foram feitas as apresentações orais dos estudos inscritos no Prêmio Científico Unoeste, evento inserido no 26º Encontro Anual de Pesquisa Institucional e Iniciação Científica (Enapi) e concebido como incentivo à divulgação de pesquisas científicas e tecnológicas.  Foram apresentados estudos produzidos por estudantes de graduação e pós-graduação, de diferentes instituições de ensino superior, nas seguintes grandes áreas do conhecimento: ciências agrárias; ciências exatas e engenharias; ciências humanas e sociais aplicadas; e ciências biológicas e da saúde. As publicações são nos anais do Enepe 2021, o Encontro Nacional de Ensino, Pesquisa e Extensão da Unoeste; que abriga o Enapi.

Serviço

As palestras do Enepe estão disponíveis no canal do Youtube da Unoeste, neste link.


Legenda: Dr. Pedro Hallal: a ciência no enfretamento da Covid-19, sem o viés da politização
Créditos: Reprodução